domingo, 2 de agosto de 2009

I. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.

O Espiritismo teve, como todas as coisas, seu o período de criação, e até que todas as questões, principais e acessórias que a ele se ligam, tenham sido resolvidas, ele não pôde dar senão resultados incompletos; pôde-se entrever-lhe o objetivo: pressentir-lhe as conseqüências, mas somente de maneira vaga.

Da incerteza sobre os pontos ainda não determinados deveriam forçosamente nascer divergências sobre a maneira de considerá-los; a unificação não poderia ser senão a obra do tempo; fez-se à medida que os princípios foram elucidados.

Não será senão quando a Doutrina tiver abarcado todas as partes que ela comporta, que formará um todo harmonioso, e será só então que se poderá julgar o que é verdadeiramente o Espiritismo.

Enquanto o Espiritismo não foi senão uma opinião filosófica, não poderia ter, entre os adeptos, senão a simpatia natural produzida pela comunidade das idéias, mas nenhum laço sério poderia existir por falta de um programa nitidamente definido.
Tal é, evidentemente, a principal causa da pouca coesão e da estabilidade dos grupos e sociedades que se formaram.
Também, constantemente, desviamos os Espíritas de fundarem prematuramente alguma instituição especial apoiada sobre a Doutrina, antes que esta não estivesse assentada sobre bases sólidas; expor-se-ia a fracassos inevitáveis, cujos efeitos teriam sido desastrosos, pela impressão que teriam produzido sobre o público e o desencorajamento que disso resultaria entre os adeptos.

Esses fracassos teriam, talvez, retardado de um século o progresso definitivo da Doutrina, na impossibilidade da qual se poderia imputar um insucesso que, em realidade, não teria sido senão o resultado da imprevidência. Por falta de saberem esperar para chegarem ao ponto, os muito apressados, e os impacientes, comprometeram em todos os tempos as melhores causas (1).

(1) Ver, para maior desenvolvimento da questão das instituições espíritas, a Revista Espírita de julho de 1866, página 193.

Não é preciso perguntar às coisas o que elas podem dar, à medida que estejam em estado de produzirem; não se pode exigir de uma criança o que se pode esperar de um adulto, nem de uma jovem árvore plantada o que produzirá quando estiver com toda a sua força.

O Espiritismo, em vias de elaboração, não poderia dar senão os resultados individuais; os resultados coletivos e gerais serão o fruto do Espiritismo completo, que se desenvolverá sucessivamente.

Se bem que o Espiritismo não haja dito a sua última palavra sobre todos os pontos, ele se aproxima de seu complemento e o momento é chegado de lhe dar uma base forte e durável, suscetível, no entanto, de receber todos os desenvolvimentos que comportarão as circunstâncias ulteriores, e dando toda segurança àqueles que se perguntam quem lhe tomará as rédeas, depois daquele que lhe dirigiu os primeiros passos.

A Doutrina é imperecível, sem dúvida, porque ela repousa sobre as leis da Natureza, e que, melhor que qualquer outra, responde às legítimas aspirações do homem; entretanto, sua difusão e a sua instalação definitiva podem ser avançadas ou retardadas pelas circunstâncias, das quais algumas estão subordinadas à marcha geral das coisas, mas outras são inerentes à própria Doutrina, à sua constituição e à sua organização.

Se bem que a questão de fundo seja em tudo preponderante, e acaba sempre prevalecendo, a questão da forma tem aqui uma importância capital; poderia mesmo superá-la momentaneamente e suscitar entraves e atrasos segundo a maneira pela qual será resolvida.
Teríamos feito uma coisa incompleta e deixado grande embaraço para o futuro, se não tivéssemos previsto as dificuldades que podem surgir.

Foi tendo em vista evitar isso, que elaboramos um plano de organização, para o qual aproveitamos a experiência do passado, a fim de evitar os escolhos contra os quais tropeçaram a maioria das doutrinas que apareceram no mundo.

O plano adiante foi concebido há muito tempo, porque sempre estivemos preocupados com o futuro do Espiritismo; fizemo-lo pressentir em diversas circunstâncias, vagamente é verdade, mas suficientemente para mostrar que não é hoje uma concepção nova, e que, trabalhando na parte teórica da obra, não negligenciamos o seu lado prático.

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