domingo, 26 de julho de 2009

IX CAMINHOS E MEIOS.


É deplorável, sem dúvida, ser obrigado a entrar em considerações materiais para atingir um fim todo espiritual; mas é preciso observar que a própria espiritualidade da obra se liga à questão da Humanidade e de seu bem-estar; qe não se trata mais somente da emissão de algumas idéias filosóficas, mas de fundar alguma coisa de positivo e de durável, a extensão e consolidação da Doutrina, à qual será necessário fazer produzir os frutos que ela é suscetível de dar.

Pensar que estamos ainda nos tempos em que alguns apóstolos podiam se pôr a caminho com o seu bastão de viagem, sem cuidado com o seu pouso e seu pão cotidianos, seria uma ilusão logo destruída por uma amarga decepção.

Para fazer alguma coisa de sério, é preciso se submeter às necessidades que os costumes, da época em que se vive, impõem; essas necessidades são diferentes das dos tempos da vida patriarcal; o próprio interesse do Espiritismo exige, pois, que se calculem os seus meios de ação para não ser detido em caminho. Calculemos, pois, uma vez que estamos num século em que é necessário contar.

As atribuições da comissão central são bastante numerosas, como se vê, para necessitar uma verdadeira administração. Tendo cada membro funções ativas e assíduas, se não se usasse senão homens de boa vontade, os trabalhos poderiam sofrer com isso, porque ninguém teria o direito de censurar os negligentes. Para a regularidade do trabalho e da expedição dos negócios, é necessário ter homens com a assiduidade dos quais se possa contar, e cujas funções não sejam simples atos de complacência. Quanto mais tivessem independência pelos seus recursos pessoais, menos se sujeitariam a ocupações assíduas; se não o têm, não podem dar o seu tempo. É preciso, pois, que sejam remunerados, assim como o pessoal administrativo; com isso, a Doutrina ganhará em força, em estabilidade, em pontualidade, ao mesmo tempo que esse será um meio de prestar serviço às pessoas que poderiam dele ter necessidade.

Um ponto essencial, na economia de toda administração previdente, é que a sua existência não repouse sobre produtos eventuais, que possam fazer falta, mas sobre recursos fixos, regulares, de maneira a que sua marcha, haja o que houver, não possa ser entravada. É necessário, pois, que as pessoas que serão chamadas a dar o seu concurso não possam conceber nenhuma inquietação quanto ao seu futuro.

Ora, a experiência demonstra que se devem considerar como essencialmente aleatórios todos os recursos que não repousem senão sobre o produto de cotizações, sempre facultativas, quaisquer que sejam as obrigações contratadas, e de uma arrecadação sempre difícil. Assentar despesas permanentes e regulares sobre recursos eventuais, seria uma falta de previdência que se poderia um dia lamentar. As conseqüências são menos graves, sem dúvida, quando se trata de fundações temporárias que duram o que elas podem; mas aqui é uma questão de futuro. A sorte de uma admistração como esta, não pode estar subordinada às chances de um negócio comercial; deve ser, desde o seu início, senão tão florescente, pelo menos tão estável quanto o será daqui a um século. Quanto mais a sua base seja sólida, menos estará exposta aos golpes da intriga.

Em semelhante caso, a mais vulgar prudência quer que se capitalizem, de maneira inalienável, os recursos à medida que chegam, a fim de constituir uma renda perpétua, ao abrigo de todas as eventualidades. A administração, regulando suas despesas sobre a sua renda, a sua existência não pode, em nenhum caso, ser comprometida, uma vez que terá sempre os meios de funcionar. No começo, pode ser organizada numa pequena escala; os membros da comissão podem ser provisoriamente limitados a cinco ou seis, o pessoal e as despesas administrativas reduzidos à sua mais simples expressão, salvo para proporcionar o desenvolvimento e o crescimento dos recursos e das necessidades da causa, mas ainda seria preciso o necessário.

Foi para preparar os caminhos da instalação que consagramos, até este dia, o produto dos nossos trabalhos, assim como dissemos mais acima. Se os nossos meios pessoais não nos permitem fazer mais, teremos pelo menos a satisfação de ter-lhe posto a primeira pedra.
Suponhamos, pois, que, por uma via qualquer, a comissão central esteja, num tempo dado, posta em condições de funcionar, o que supõe uma renda de 25 a 30 mil francos, limitando-se, no início; os recursos de todas as naturezas, de que disporá, em capitais e produtos eventuais, constituirão a Caixa Geral do Espiritismo, que será objeto de uma contabilidade rigorosa.


Estando reguladas as despesas obrigatórias, o excedente da renda aumentará o fundo comum; será proporcionalmente aos recursos desse fundo que a comissão proverá as diversas despesas úteis para o desenvolvimento da Doutrina, sem que jamais disso possa fazer seu proveito pessoal, nem uma fonte de especulação para nenhum de seus membros. O emprego dos fundos e a contabilidade serão, aliás, submetidos à verificação de comissários especiais, delegados para esse efeito pelos congressos ou assembléias gerais.

Um dos primeiros cuidados da comissão será se ocupar com as publicações, desde que para isso houver possibilidade, sem esperar poder fazê-lo com a ajuda da renda; os fundos destinados para esse uso não serão, em realidade, senão um adiantamento, uma vez que reentrarão pela venda das obras, cujo produto retornará ao fundo comum. É um negócio administrativo.

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